sexta-feira, 5 de março de 2010

A ESCOLA DO TRABALHO

Inicio esta discussão com ganas de torna-la uma construção coletiva e um relato direto das experiências vividas cotidianamente, na busca por uma sociedade onde os trabalhadores, produtores do mundo em si, passem a conformar-se como produtores do mundo para si onde cessem as lutas de classes juntamente com o fim das mesmas e onde a humanidade e suas capacidades não mais sirvam ao bel prazer de uma minoria de capitalistas mais sim que todo o desenvolvimento esteja a serviço da plena emancipação humana. Tomo como pedra filosofal desta construção a organização dos trabalhadores como indivíduos livres associados e a tratarei de forma ainda sintética, dados os limites de minha apreensão, mas tratá-la-ei como algo que enxergo como uma possibilidade real de organização da classe trabalhadora.

A escola do trabalho deverá constituir um espaço de experimentação real da abolição da divisão social do trabalho. Sua atividade produtiva deverá constituir uma fusão entre o pensar e o executar o trabalho, as atividades realizadas não deverão necessariamente transformar o individuo em um profissional da área em questão mas sim deverá possibilitar-lhe a plena capacidade de compreender-se como detentor da generalidade que capacitou aos homens reconstituírem o mundo a sua imagem e semelhança e alcançar o patamar evolutivo correspondente a tecnologia de seu tempo.
Sabemos entretanto, que tal possibilidade de compreensão só é plausível para indivíduos cuja atividade laboral os coloca em relação direta com o meio de produção e esta aspiração por sua vez só pode ser plenamente fruída a medida que o trabalho “espiritual”,intelectual, e o trabalho material executivo por excelência sejam fundidos.
Identificada pois a necessidade, sendo esta apontada pela análise racional da realidade objetiva, elabora-se então um plano que guiará todo o processo de execução de tal projeto este por sua vez deve, ainda que fugazmente como já o dissemos, ser apenas suficiente para que o indivíduo entenda-se como cooperador de uma generalidade da qual é produto e produtor.
Todo o trabalho deverá realizar-se dentro de uma relação de, apreensão, projeto, experimentação executiva e desenvolvimento coordenado.
A escola do trabalho deve basear-se em princípios organizativos consonantes com as organizações menos desenvolvidas no sentido “burocrático,”e ser guiada pela política social -guardados os limites da política- mais plena de todos os tempos, ou seja, a condição de trabalhadores livres associados, situação da qual a humanidade apenas em poucos ou no mínimo em curtos momentos teve o privilégio de engendrar. A realidade objetiva deverá ser o norte e o fruto da união entre estes trabalhadores livres associados.
As experiências vividas entre 1870 e 1871, pelos memoráveis realizadores da comuna parisiense, que deflagraram o primeiro levante da classe operária em face do capital, só podem ser comparadas, em universalidade de causa e profundidade radical, às que gozaram os trabalhadores russos feitores da gloriosa revolução de outubro de 1917, onde estes ensinaram ao mundo que era possível não só tomar os meios de produção e socializa-los como bens comuns, mas poder-se-ia atingir o ponto nevrálgico que a comuna não teve tempo de atingir em seus valorosos setenta e dois dias, e que a organização soviética dos povos insurretos da Rússia, nos demonstrou materialmente atingindo uma aceleração inaudita do desenvolvimento tecnológico por meio da abolição radical da propriedade privada dos meios de produção, estatização das instituições financeiras e etc, iniciando a luta por uma revolução socialista mundial.
O desenrolar de ambos os episódios foi de tremendo custo para aqueles que se colocaram contra o jugo do capital. Apreender a história, apropriar-se dos fatos que envolveram as lutas dos trabalhadores – tanto as lutas espontâneas quanto as previamente organizadas – é de suma importância, entretanto a natureza da presente explanação pede que nos atenhamos as possibilidades, retrocessos e avanços vividos no passado, que saibamos identificar os elementos que, se por um lado partiram de pré-supostos profundamente refletidos e razoáveis, em algum momento tomaram se não o rumo da burocracia de Estado e da traição, o rumo sombrio da carnificina imperialista e que muito disso se deu não só pelo ímpeto fascista mas também pelo embuste e medo social democrata, lembrando que em matéria de atraso são equivalentes aqueles que puxam o gatilho aos que permitem ou incentivam que outros o façam.
Sabemos então que as relações subseqüentes travadas onde houveram as insurreições trabalhistas; ou retrocederam a um estado de coisas tão opressor quanto ao dos períodos pré-revolucionários ou pioraram dado que não só separaram com mais força o indivíduo do fruir o mundo, produto de seu suor, mas ainda o afastaram progressivamente da capacidade de almeja-lo, processo ao qual a presente empresa se propõe reverter.
O papel da educação emancipadora entendida como o processo de troca e desenvolvimento de saberes ou seja da inter-penetração de fatores não necessariamente contrários em essência mas necessariamente diferentes na forma e subjetivos em perspectiva, possibilita a identificação e objetivação do novo, seu papel para ser cumprido de fato necessita guardar algumas particularidades, deve incentivar e produzir relações de trânsito em que o aprendiz em determinado momento passa a mestre e vice-versa possibilitando a um e outro que exerçam tanto sua inclinação “natural”, profissionalmente como seu interesse filosófico amadoristicamente e que tanto um quanto o outro emprego de suas faculdades intelectuais e físicas seja: facultativo, incentivadamente experimental e profundamente analítico.
É fato dado que a escola do trabalho deve preceder a sociedade do trabalho dado que ela cria não a possibilidade de ruptura revolucionária, pois esta já esta dada desde o nascimento da sociedade do capital, mas ela por seu turno gera uma relação de “produção dos meios de produção” que serve como protótipo – ou seja de modelo não acabado – para a realização da educação emancipadora que será necessariamente o norte da sociedade comunista.
Tomo a educação emancipadora como uma das – senão a própria – relação de maior valia pois é no seio desta que se produzirá o homem total em conformidade com o mundo total, mundo este produzido pela contemporaneidade múltipla na qual estamos caoticamente imersos. O homem harmônico, entretanto deverá pela essência de sua própria realidade produzir – por conseguinte – o mundo harmônico à sua nova imagem e semelhança, deve-se então fazer verdade em lugar da mentira, a crítica deve ser um ato legítimo de produção ou de denuncia mas nunca uma mera especulação vaidosa ou cobiçosa, mas de qualquer forma, por hora, este horizonte, só podemos vislumbrar de ante mão.
E enfim, me detenho momentaneamente na discussão para que a análise não se torne leviana e para que ao darmos o próximo passo em direção a execução da proposta – por hora sintética – apresentada, estejamos munidos tanto das críticas quanto dos acréscimos necessários ao desenvolvimento de projetos tão universalistas como o de uma escola do trabalho assim como tantos outros que cabe a nós discutir e engendrar, projetos estes que tem sido testados a todo momento em “isolados” focos de resistência, ações aspiradas e ou refletidas mas que só poderão de fato tornar-se em um “elo de ruptura”através da ação real de seres reais.
O que se propõe ou, o que se procura compreender são os meios de construção material de uma nova realidade. Realidade tal que poderá por diferentes pré-supostos e exemplos acabar com o jugo do capital, acabando com a secular separação de classes essencial ao status quo, acabar com a dominação que veio sendo potencializada pelo capitalismo mercantilista, agudizada pelo capital monopolista e extremada pela nova era dos imperialismos, é hora de uma definitiva antítese e da derradeira superação. É possível que seja a hora, cabe a nós engendra-la.

Valdir jr.

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