terça-feira, 25 de maio de 2010

"Bicicleta"




“Até mesmo a forma de transporte que nos libertou era barata, pois nós, ou nossos pais, seguimos o conselho dos anúncios na traseira dos ônibus londrinos de dois andares: "Desça desse ônibus. Ele jamais será seu. Compre uma bicicleta por dois pence por dia". Com efeito, com poucas prestações semanais podia-se comprar a bicicleta – no meu caso uma brilhante Rudge-Whitworth, que custava mais ou menos cinco ou seis libras. Se a mobilidade física é condição essencial da liberdade, a bicicleta talvez tenha sido o instrumento singular mais importante, desde Gutenberg, para atingir o que Marx chamou de plena realização das possibilidades de ser humano, e o único sem desvantagens óbvias. Como os ciclistas se deslocam à velocidade das reações humanas e não estão isolados da luz, do ar, dos sons e aromas naturais por trás de pára-brisas de vidro, na década de 30, antes da explosão do tráfego motorizado, não havia melhor maneira de explorar um país de dimensões médias com paisagens tão surpreendentemente variadas e belas. Com a bicicleta, uma tenda, um fogareiro a gás e a novidade da barra de chocolate Mars, explorei com meu primo Ronnie (que a pronunciava "Marr", como se fosse em francês) grande parte das belezas civilizadas do sul da Inglaterra, e, numa memorável excursão de inverno, também as mais selvagens do norte do País de Gales.”




(HOBSBAWM, E. “Tempos interessantes: uma vida no século XX”. ISBN 85-359-0300-3. S.Paulo: Companhia das Letras, 2002. pp. 107-108)

Um comentário:

Camilla Dias Domingues disse...

estou há bastante tempo no "ensaio sobre a bicicleta" tentando ter grana pra comprar uma mas a idéia não me sai da cabeça.